Este artigo foi escrito pela nossa atleta de CrossFit e OCR, Ana Capitão.

Mais de uma semana depois e ainda não sei como descrever toda a experiência que foi participar na Spartan Madrid.

Vamos a Madrid? Vamos!? Começou assim este desafio, como na maioria destas aventuras, é por “aquelas pessoas” que acabo por participar em provas como a Spartan, onde saio da minha zona de conforto, enfrento o inimaginável e me supero sempre um pouco mais. Assim foi também desta vez. A questão ficou a ecoar e o burburinho dos lobos entusiasmados por irem participar só fez com que uma vontade que já existia em mim confirmasse a inscrição em Novembro; a partir daí não havia mais volta a dar!

Regressada ao desporto há pouco tempo – depois de um ano parada e em baixo de forma, mas rodeada de um espírito motivante que se absorve ao passar pela Box – comecei a focar-me nos treinos para melhorar o meu condicionamento em geral. Voltar a treinar foi algo em que me foquei por mim, uma obrigação que se transformou em algo essencial, mas não há como não reconhecer o ambiente acolhedor da AlphaDen, que nos leva a treinar mesmo nas noites frias de Inverno, como é o meu caso, com a grupeta das 20.30h ou a levantar cedo a um sábado de manhã.

A verdade é que não sou nenhuma entendida em desporto e muito menos em provas de obstáculos, fui agarrando as dicas que ia apanhando dos Coaches e colegas, apostei nas aulas de CrossFit e OCR, e quando dava lá ia uma corridinha. Considero sinceramente que o CrossFit me ajudou e ajudará a ganhar força para alguns dos obstáculos e o OCR a interligar as duas vertentes existentes na prova, como força e corrida, explosão e metabolismo.

Participar noutras provas também foi uma forma de ir mantendo o entusiasmo e estímulo na preparação para a Spartan, bem como uma forma de teste. Assim, duas semanas antes do grande desafio, fui à Police Challenge, em Viseu. Na companhia da alcateia superei-me a mim mesma, conheci novos obstáculos, revi dificuldades e lesionei-me. No fim da prova magoada no pé, a única coisa que tinha no pensamento era “E agora como vai ser? A Spartan está já aí!”. Foram duas semanas atípicas, onde tive de me manter calma, acreditar que o essencial estava feito e apostar na capacidade de sofrimento de que o Tiago muitas vezes nos fala, na capacidade de ignorar a dor.

Preparada ou não, o dia chegou, para mim e para todos os lobos amigos e familiares que lá estavam e que partilharam este dia inesquecível comigo. Mentiria se dissesse que não estava nervosa, claro que sim e nem poderia ser de outra forma, era a minha primeira Spartan, ouvi os mais experientes falarem da prova, dos obstáculos, vi até alguns, mas o que poderia esperar era desconhecido e seria, até senti-lo. A partida tem sempre o seu pico de adrenalina que esfriou logo, pois fomos directos para o rio, primeiro obstáculo ou talvez não, apenas parte do percurso, passagem directa para os próximos 15 kms. Não consigo contar quantos obstáculos foram ao certo, mas sei de cor os que não ultrapassei até porque me valeram 210 burpees – sim estão a ler bem!

Digo “não ultrapassei” e não “falhei”, pois sinto que mesmo não os tendo realizado, me superei em cada um, principalmente quando a caminho dos 9 kms as minhas pernas me atraiçoaram e as cãibras apareceram. Nunca me havia acontecido, até nisto teria de ser a primeira vez, cãibras a correr, mas não havia nada a fazer, desistir não era opção, apenas continuar gerindo tendo em conta o percurso e obstáculos. Por isso, quando a saltar para a corda ventral o gémeo direito esticou, não consegui conter o grito e assustei o Marshall – que são maravilhosos, nos motivam e puxam por nós mesmo quando estamos a fazer burpees – e que neste caso me deu a hipótese de sair e recomeçar; mas para quê? Já estava pendurada e a regra é uma tentativa, por isso segui. E fui seguindo até chegar a mais uma passagem com água, em que a indicação era para nadar; este foi mais um dos momentos que não esquecerei. Estive cerca de cinco minutos a avaliar a situação e a perceber como faria, uma vez que era uma zona de passagem a nado devido à profundidade, a meio do rio e sem grande alternativa, um dos meus principais medos teria de ser posto de lado, estar numa zona sem pé, sem apoio de terceiros num rio sem visibilidade, mas teria de o fazer, pois estava na Spartan, tinha vindo para me superar e, ainda que não a nado mas agarrada às rochas, lá fui pensando em alguns lobos que teriam a mesma fobia.

A incógnita dos kms a percorrer também é parte importante da gestão que temos de ir fazendo, principalmente mental. Numa Spartan, parte dos obstáculos passa por corrida com cargas e isso foi algo de que gostei, talvez porque tenho consciência que ainda não tenho braços para outro tipo de obstáculos. Todavia, quando ao chegar à zona da meta tive o aplauso dos nossos lobos senti um grande alento, não foi suficiente para percorrer a suspensão, mas cheguei às máscaras (refiro-me a uma suspensão com três fases, primeiro monkey bars, seguido de uma trave lateral que balança e por fim umas máscaras da Spartan até ao sino) o que para mim foi uma vitória. Ter a alcateia nos últimos momentos foi muito bom, serviu para poder desfrutar dos obstáculos, ouvir umas dicas e aproveitar, estava feito.

Saltar a fogueira, cruzar a meta e receber a minha medalha, foi sem dúvida um dos melhores momentos, apesar de tudo tinha chegado ao fim, ultrapassado obstáculos, muitas vezes mais mentais do que físicos, e participado numa prova como a Spartan. A corrida de obstáculos que me fez redefinir os meus limites, redescobrir-me e querer mais.

Aos que perguntam como foi, a resposta é simples: foi mau, mas adorei! A verdade é que o que sinto sempre que penso na prova é algo indescritível. Para quem ainda tem dúvidas, só posso garantir que não se irão arrepender, trata-se de uma prova de superação pessoal, todavia por treinar com a família AlphaDen sentimo-nos sempre acompanhados, a camaradagem e exemplo vão no pensamento.

Foram mais de 15 kms e mais de 25 obstáculos que se traduzem numa grande alegria emocionante, e espero que contagiante, pois a próxima Spartan estará por aí à nossa espera!